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“Para entender a História da Literatura, é preciso entender sobre a recepção da Literatura”

By fevereiro 28, 2018 No Comments

Por Nathália Coelho
            Uma biblioteca pessoal não é apenas uma reunião de livros aleatórios, que, por sua vez, não são somente enfeites na estante. Uma biblioteca diz muito sobre o seu próprio dono e pode direcionar uma pesquisa acadêmica literária quando o proprietário da fortuna crítica é também um escritor. Este é o caso da obra A Biblioteca de Machado de Assis (2001), organizado pelo Prof. Dr. José Luís Jobim, também convidado do I Seminário Internacional de Epistemologia de Romance, realizado no final do ano passado, na Universidade de Brasília (UnB).

            De acordo com Jobim, os livros de Machado foram levados para a Academia Brasileira de Letras (ABL) por José Veríssimo, após a morte do autor. Só na década de 60 que o francês Jean Michel Massa inventariou tal patrimônio.

“Se pensarmos na história cultural do Brasil, provavelmente no momento em que se deslocou uma parte do acervo de Machado para a ABL era de que ‘vamos botar uma decoração ali parecida com a que estava na casa do Machado’. Não se tinha ainda uma ideia de que através da biblioteca você vai conhecer parte da obra do autor. Quem ele leu, se nos livros tinham anotações à margem, as próprias escolhas dele para citação dos livros, qual a relação dessas escolhas, quem é que doava livros com dedicatória, como é que funcionava essa socialização literária”, explica.

É neste sentido que Jobim afirma a necessidade de compreender a recepção da Literatura para o estudo da própria história literária, a partir de uma investigação epistemológica, no caso em discussão, acerca da escrita machadiana. Esta é uma das intenções de trabalho do grupo Epistemologia do Romance. Assim como outros milhares de pesquisadores, a E.R. também se debruça sobre a obra de Machado de Assis.

Questionado sobre a importância de Machado para a Literatura Mundial e Nacional, Jobim até brinca, “Esta é uma pergunta que a resposta ia demorar mais ou menos uns dois dias”. Para o estudioso, a relevância machadiana está na repercussão da obra na cultura brasileira e na incorporação internacional de estudos/traduções sobre o autor sem a vinculação de uma determinada pauta.

“A História dessas traduções está relacionada a pessoas que leram Machado, se surpreenderam, apaixonaram pelo dito cujo e decidiram traduzir”, reitera.

Na entrevista, Prof. Jobim também comenta sobre a situação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), a qual ocupou o cargo de professor titular, diretor do Instituto de Letras, Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Letras e membro do Conselho Universitário. 

Confira!


Sobre José Luís Jobim
Doutor em Letras (1986) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), José Luis Jobim foi também visiting scholar na Stanford University (2001). Deu cursos e fez conferências em várias universidades do Brasil e do exterior, entre as quais: Sorbonne Nouvelle (França), Universidade de Roma La Sapienza (Itália), Yale, Princeton, Manchester, Universidad de Chile, Universidad de La Republica Oriental de Uruguay. Hoje é Professor Titular da Universidade Federal Fluminense. Seu projeto de pesquisa recente (2015-2019) busca compreender as teorizações sobre o que acontece quando um determinado elemento literário ou cultural, com uma alegada origem em um lugar, vai inserir-se em outro lugar.