Por Nathália Coelho
Para se trabalhar com fronteiras, é preciso ultrapassar o uso de apenas uma linguagem e recair no “para além” do pensamento. Em entrevista ao Grupo Epistemologia do Romance, a prof. Dra. Seloua Luste Boulbina, da Université Dennis Diderot, Paris VII (França) e também membro do Programa de Pós-graduação em Metafísica da UnB, revela que nada de seu trabalho sobre pós-colonidade e descolonidade existiria sem a Literatura.
“Entendi que isso era necessário para mim: ler literatura não só por ler literatura, mas para entender o que acontece com a colônia pelo caminho da subjetivação. Então foi por esse caminho que eu aprendi como partir para outros”, reitera. Boulbina tem formação em Filosofia e em Ciência Política, e em termos gerais, realiza pesquisas sobre a ligação/influência política e cultural nas descolonizações africanas.
Boulbina conta que Kafka foi o primeiro objeto de trabalho. “Quando eu descobri que Kafka estava muito bem informado sobre colonidade, foi então que consegui cruzar além da fronteira entre Filosofia e Literatura em minha pesquisa. Não foi apenas ler os índios em autores pós-coloniais, americanos ou outros pensadores. Eles falharam porque eu penso que se você baseia seu pensamento apenas na Filosofia você perde o mais importante em colonização. Especialmente em colonização do conhecimento”, explica.
Seguindo esta estrada de fronteiras, a prof. Seloua diz que aprecia muito o Programa de Metafísica justamente porque intenta-se a extinguir tais muros, sobretudo entre a Literatura e a Filosofia. “Mas é preciso entender muito bem este ponto: poucos filósofos assumem que há interesse filosófico na Literatura. Porque se, por exemplo, você ler Deleuze, você pode perceber que ele instrumentaliza a Literatura. É próximo do Programa Epistemologia do Romance”, conclui.
Como a conversa com Boulbina foi feita na ocasião de visita ao Brasil para a participação do I Seminário Internacional de Epistemologia do Romance, em novembro do ano passado, o grupo não perdeu a oportunidade de questioná-la sobre o cenário político brasileiro. Para a estudiosa, a corrupção nacional é uma questão de Estado, não de economia. “Eu penso que principalmente, especialmente como na África, você consegue encontrar governos e administração, mas não Estados reais com fortes instituições. ”
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Sobre Prof. Dra. Seloua Luste Boulbina
Apesar de ser Doutora em Ciências Políticas pela Université Paris 1 (1998), Seloua Boulbina é formada em Filosofia pela Université des Sciences Sociales de Grenoble (1979) e é mestre nas duas áreas de conhecimento. De acordo com o seu Currículo Lattes, Boulbina tem experiência na área de Ciência Política, com ênfase em Estado e Governo. Também se interessa e estuda as questões pós-coloniais em suas dimensões políticas e culturais. É professora associada da da Université Dennis Diderot, Paris VII (França) e membro do Programa de Pós-graduação em Metafísica da Universidade de Brasília como mencionado anteriormente. Além disso, Boulbina trabalha com artes visuais, colaborando com a curadoria de vários artistas.