Saiu em março deste ano a 33ª edição da Revista Brasileira de Literatura Comparada, organizada pela Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC). O periódico virtual conta com uma novidade neste número: três pesquisadores do Grupo Epistemologia do Romance participam com seus artigos e o líder do grupo e editor desta edição, Wilton Barroso Filho, assina a introdução.
Barroso afirma que tradicionalmente a Hermenêutica é uma disciplina muito utilizada na relação Filosofia e Literatura, no que tange às possibilidades interpretativas do romance. No entanto, ao agregar a Epistemologia e a Estética nesta equação potencializam-se os estudos comparados e ainda é levantado um questionamento pertinente: o romance produz conhecimento?
“A Arte do Romance, diferentemente das Ciências, não pode e não deve ser entendida em critérios redutivistas que proponham uma unívoca e universal definição do romance. Não obstante, se descolarmos o conceito de universal para os estudos de casos, onde cada gênero, cada romance ou ainda cada obra completa de um autor possa ser considerado um universo em si, podemos lançar mão da célebre pergunta formulada por Kant em seu livro a Crítica da Razão Pura: o que que eu posso saber?”, reitera Barroso.
É por meio do efeito estético, ou seja, da sensibilidade primeira, que se pode chegar à racionalidade da narrativa, caso decida-se por “demorar”, “fruir”, “ruminar” o romance. “Quando se busca entender esse primeiro efeito, se estará fazendo Epistemologia; ou seja, buscando o conhecimento como uma consequência do efeito estético, onde a sensação leva à razão”, explica.
O trabalho comparatista se dá pelo viés histórico, afirma Barroso. E como acréscimo é bom alertar: “O olhar humano sobre o mundo é sempre incompleto, por isso somos históricos, por conseguinte os nossos olhares sobre a Arte do Romance também são incompletos ou aproximados.”
Artigos publicados
Conheça as propostas dos artigos publicados por Ana Paula Aparecida Caixeta, Maria Veralice Barroso e Itamar Rodrigues Paulino. Para acessar o texto completo, basta clicar no título do trabalho. Já para conhecer a revista completa, clique aqui!
O KITSCH COMO UM MAL ÉTICO: OBSERVAÇÕES SOBRE O ANTAGONISMO ESTÉTICO NA LITERATURA DE GLAUCO MATTOSO
Ana Paula Aparecida Caixeta
Resumo: O espaço ocupado pela literatura se vale da estética na busca por questões da forma e do conteúdo, com destaque pela linguagem que ali opera. Em Glauco Mattoso, sua obra é composta por discursos que evidenciam a escatologia, enquanto excremento, ao passo que a preocupação com o processo de criação, os temas transgressores e a recepção impactante de seus textos ampliam perspectivas de seu antagonismo. Neste caso, marcado por uma estética contrária às definições de kitsch, em que a escolha do escritor não é uma felicidade sensorial ou uma literatura agradável, suas etapas processuais transitam pela contramão, indo ao encontro da abjeção e do politicamente incorreto, muitas vezes eticamente condenável, mas esteticamente compreensível como denunciador de questões da condição humana. Para dar conta dessa discussão, a escolha de análise busca amparo no norteamento da Epistemologia do Romance, que conduz a pesquisa literária por três vieses, um deles, a estética.
Maria Veralice Barroso
Resumo: O presente artigo tem por objetivo realizar uma análise do conto Personne ne va rire[1], procurando nele delinear o surgimento do que poderia ser compreendido como um importante componente da espinha dorsal do projeto estético romanesco de Milan Kundera: a personagem de Don Juan. Destacando o riso e o erotismo como elementos constitutivos do donjuanismo, consequentemente, como fundamentos da escrita ficcional kunderiana, intenta-se uma incursão epistemológica pela narrativa Personne ne va rire, buscando, a partir dela, ampliar as possibilidades acerca do que nos é possível saber sobre a existência quando tomamos por objeto de investigação o espaço literário do romance moderno.
Itamar Rodrigues Paulino