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Tradução, romance e suicídio são os temas do terceiro dia de seminário

por Nathália Coelho e Sara Lelis 
O terceiro dia do II Seminário Nacional de Epistemologia do Romance: o estético como espaço de entendimento do humano iniciou-se com a mesa de comunicações “Língua indígena: tradução e epistemologia” coordenada pela doutoranda Sara Lelis. A mesa reuniu os trabalhos de Janaina Cesar (UnB), Cesar Augusto Nuñez (Universidad Nacional Autónoma de San Marcos) e o da própria Sara, trabalhos esses que convergem na perspectiva da tradução como atividade de conhecimento e, no caso das línguas indígenas, um conhecimento que remonta o período pré-hispânico. 


Janaina apresentou o trabalho de restauração da língua tupinambá pelo prof. Aryon Rodrigues a partir da obra do missionário francês Jean de Léry “História de uma viagem feita à terra do Brasil” em que se relata no período colonial a língua, cultura, história e religião dos tupinambás. Cesar Augusto comparou as narrativas de dois autores, Sousândrade e Churata, nas quais se manifesta uma busca pelo reconhecimento latinoamericano, por uma visão de mundo distinta que termina se esboçando na língua, no encontro de duas línguas. Por fim, Sara Lelis apresentou uma parte de sua tese que consiste no percurso arqueológico-tradutório da obra poética Cantares Mexicanos, no qual se fez visível os diversos substratos a serem desbravados no processo tradutório cujo projeto é recuperar os rastros da linguagem pré-hispânica. 



Na parte da tarde, a mesa redonda “O metafísico literário como espaço de conhecimento humano” tratou do romance como locus de produção de conhecimento acerca da existência humana. Maria Veralice Barroso, com a apresentação “O epistêmico e o metafísico no romance que pensa”, abordou o tema na perspectiva de Milan Kundera, que defende o romance como o único lugar para se dizer determinadas verdades humanas. 

Já o prof. Dr. Wilton Barroso, em diálogo com Maria Veralice, apresentou o romance como local de conhecimento sobre a vida humana proposta pela vida ficcional, exemplificando a noção a partir da obra de Miguel de Cervantes. Para Barroso, o jogo com a verdade estabelecido com a ficção liberta o narrador das convenções e permite-o revelar um conhecimento que só é possível no gênero literário em questão. 

O prof. Dr. Pedro Gontijo, do departamento de Filosofia, explicou como o romance pode suscitar ideias filosóficas nas escolas. A apresentação provocou inúmeros comentários e perguntas, numa tentativa de elaborar sugestões de melhoria do ensino de Filosofia e Literatura  nos colégios de Ensino Médio, de modo que o estudante adquira consciência da interdisciplinaridade, de ambas como ferramentas de pensamento sobre a própria existência. 

Minicurso e Conferência sobre suicídio



Com o foco nos procedimentos de tradução da poesia concreta, a prof. Dra. Ana Helena Rossi finalizou o minicurso: “Tradução, processos e procedimentos.” Rossi exemplificou sua fala com o trabalho de Haroldo de Campos, trazendo conceitos de uma tradução como uma “recrição”, uma “ressignificação” do texto enquanto forma, não somente como sentido. A tradução seria uma “transcriação”. Rossi explicou ainda que a tradução é um exercício infinito e que também depende da sensibilidade do tradutor.

Para finalizar a quarta-feira, o prof. Dr. Ileno Izídio da Costa, do departamento de Psicologia, promoveu a conferência “O ser-para-a-morte: uma reflexão clínico-fenomenológica sobre o suicídio.” Baseado na filosofia existencialista, o professor explicou que a morte não deveria ser interpretado como alvo negativo, pois é uma condição do ser humano. Assim, a possibilidade de tirar a própria vida deve ser interpretado não com a consequência de uma doença, como por exemplo a depressão ou problemas psicológicos diversos. O suicídio, para o professor, deve ser interpretado pela história do sujeito, por toda sua existência.

Nesse sentido, Costa chamou atenção para o projeto de vida do ser humano,  para a construção de significados, para a autenticidade que cada um cria para o seu desenvolvimento enquanto sujeito, como cada um consegue experenciar a vida de forma positiva.

O professor também ressaltou a importância da sociedade como todo como rede de apoio, a quebra de preconceitos em torno do tema, a necessidade de falar de forma consciente e com cuidado, sem a precisão de busca de culpados, mas de modo que se possa criar um ambiente de respeito e alteridade entre os seres humanos, apesar de todas as dificuldades inerentes aos vazios sociais.

O II Seminário Nacional de Epistemologia do Romance vai até amanhã, sexta-feira (09), para acessar a programação, clique aqui!