por Sara Lelis / Nathália Coelho
Tradução e epistemologia foram o cerne da entrevista concedida pela profa. Dra. Ana Helena Rossi, do Departamento de Línguas Estrangeiras e Tradução da Universidade de Brasília, no II Seminário Nacional de Epistemologia do Romance, em novembro do ano passado. Dentre outras coisas, a professora salientou a importância da tradução na elaboração do conhecimento.
“Como fica a questão da tradução na globalização? Todo conhecimento que a Europa começou a sistematizar no século XVII vem pelos gregos, pela tradução. O conhecimento dos árabes chega à Europa pela tradução. O conhecimento da geometria, da matemática, pelo grego e latim”, explica.
Rossi desloca a tradução de sua compreensão do senso comum: a de que traduzir consiste meramente em passar de uma língua para a outra. Em sua visão, “a tradução é um assunto muito sério para ser desconsiderado e qualificado como uma mera técnica”. Além disso, a tradução tem grande impacto no relacionamento entre as pessoas que transitam entre diversos países, e na composição de culturas. Frente a isso, indaga qual deve ser a postura do tradutor como construtor de conhecimento.
Para Rossi, tanto a tradução quanto a epistemologia lidam com um conjunto de categorias analíticas. O tradutor deve, em primeiro lugar, compreender as categorias do lócus textual A, isto é, do texto a ser traduzido, o que significa entender como elas são organizadas naquele texto, suas camadas de sentido, no intuito de reelaborá-las no lócus textual B, isto é, no texto traduzido. No caso de um romance, como um tradutor reelabora sua informação estética na tradução? “O papel do tradutor é desvendar o inalcançável [do texto] e reelaborá-lo de maneira inteligível”, afirma a professora.
Por fim, perguntou-se à também tradutora e poeta sobre a relação entre tradução e escritura, tradução e processo criativo. Segundo Rossi, que escreve e se (auto) traduz, a única diferença entre as atividades é que na tradução existe um texto que norteia o texto a ser produzido. Traduzir, para ela, é um ato de escrever porque também consiste em uma intervenção na linguagem.
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