Textos do novo livro foram discutidos por membros do grupo em Simpósio realizado no Congresso Internacional da Abralic, em Brasília
Por Nathália Coelho e Priscila Cavalcante
Seguindo o projeto de publicações editoriais, o grupo de pesquisa lançará até o final do ano o volume I de Verbetes da Epistemologia do Romance, pela editora Verbena. Este é o segundo livro produzido a partir das pesquisas acadêmicas em torno da construção da teoria complexa.
Diferente de “Estudos Epistemológicos do Romance” (2018), a nova publicação não é uma reunião de ensaios acerca das pesquisas literárias desenvolvidas pelo grupo, mas se envereda em conceituar – a partir da Epistemologia do Romance – expressões comumente usadas na análise comparatista.
“Ao longo dos anos, o prof. Wilton Barroso começou a usar em seus discursos e aulas diversas expressões que foram incorporadas pelos pesquisadores. A publicação dos verbetes é um passo para a materialização conceitual do que fazemos, de modo que se possa pontuar o que falamos e de onde partimos”, explica a líder do grupo, prof. Dra. Ana Paula Caixeta.
Ao todo, serão 14 verbetes: epistemologia do romance, estética, conjunto de obra, efeito Estético, metafísica, idílio, sério ludere, epistemologia com sensibilidade, tradutor epistemológico, leitor pesquisador, ego experimental, narrador, romance que pensa e kitsch.
Simpósio Abralic 2019
Entre os dias 16 e 18 de julho, o grupo realizou o simpósio Questões metafísicas na Literatura: Epistemologia do Romance como debate ontológico do fazer artístico como uma das atividades previstas pelo XVI Congresso Internacional da Abralic, na Universidade de Brasília. Das 15 apresentações, seis foram voltadas para a discussão dos verbetes que estarão no livro.
Com a comunicação “A Estética no contexto da Epistemologia do Romance”, a líder do grupo Ana Paula Caixeta explicou que a aisthesis está no centro das discussões da filosofia da arte e tem como problema dominante a razão versus a sensibilidade. O movimento dialético desses elementos pode promover “perspectivas de conhecimento” e este é o interesse da teoria complexa: compreender como a estética torna-se caminho para o sujeito que interpreta e investiga um objeto romanesco.
Já a vice-líder do grupo, Dra. Maria Veralice Barroso falou sobre “romance que pensa”. Barroso afirmou que o termo foi colhido dos estudos kunderianos e pode ser conceituado pelo que não é: “psicológico, histórico, filosófico tampouco biografismos”. Segundo a pesquisadora, este tipo de romance também não se pretende em descrever puramente a realidade nem julgá-la, mas propor possibilidades acerca da existência humana. São os egos experimentais (personagens) que materializam o projeto estético do autor na elaboração de temas existenciais. “Ego experimental” foi o tema da comunicação da pesquisadora Nathália Coelho.
De acordo com a doutoranda, o termo também é oriundo dos estudos kunderianos e tem origem filosófica, não psicológica. Cada personagem pretende pensar ontologicamente “O que é o eu?”, como uma possibilidade de existir no mundo, sem fechamento de verdades externas absolutas.
O narrador é também um elemento importante para o romance que pensa. O verbete foi apresentado pela mestranda Priscila Cavalcante que destacou seu caráter filosófico de pensar o que narra levando o leitor a refletir nesse jogo interpretativo. Segundo Cavalcante, o narrador desse tipo de romance busca a inquietação, o incômodo, as perguntas, não uma resolução de conflitos.
Já o pesquisador Herisson Cardoso apresentou a comunicação “O idílio kunderiano na Epistemologia do Romance”. Cardoso explicou que a noção de idílio teve seu conceito modificado ao longo da história e é resgatado por Milan Kundera no contexto da modernidade e desenvolve-se na “busca humana utópica por se viver uma situação de ausência de desordem e agitação” ou “o estado do mundo antes do primeiro conflito”.
A mestre Emanuelle Souza se dedicou à apresentação “O âmbito metafísico da Epistemologia do Romance”. De acordo com ela, há um esforço metafísico na aquisição de conhecimento pelo leitor pesquisador ao ter contato com a obra literária.
A afirmação é embasada pelos apontamentos kantianos na Crítica da Razão Pura que “apresenta a relação sujeito objeto como sendo o ponto de partida do entendimento”. A E.R. estaria interessada no momento seguinte dessa intuição, cujo a fruição conduz à reflexão dialógica do pesquisador, mediada por uma interpretação na qual as variáveis históricas tanto do sujeito quanto do objeto são levadas em consideração.
Outras apresentações do grupo
Outros três membros do grupo de pesquisa se dedicaram às comunicações que dialogam com suas pesquisas de doutorado. Com o título “Da relatividade da percepção do real na obra Terra Nostra de Carlos Fuentes”, Denise Moreira Santana usou a obra “A filosofia de como se”, do filósofo Hans Vahinger para mostrar como a ficção opera no caminho da racionalidade e da linearidade histórica a partir da análise da primeira parte do romance acima citado.
Já Neila Souza apresentou “A sacralização do amor materno: fronteira rompida”, uma leitura estético/ epistemológica do romance Uma/Duas (2011), de Eliane Brum. Para a pesquisadora, “não se trata de um simples desentendimento ou rancores entre mãe e filha, há questionamentos sobre a condição humana” contidos na narrativa e precisam ser explorados.
Para finalizar, Janara Laíza de Almeida Soares explorou a comunicação “Me dormí aquel día soñando en que fusilarían otro y deseando que fuera junto a mi casa: a Revolução Mexicana sob olhos infantis”. A pesquisadora traz um questionamento central sobre quais são as consequências éticas e estéticas da escolha da autora mexicana Nellie Campobello, no livro “Cartucho: relatos de la lucha em el norte del Mexico”, narrar a guerra através dos olhos de uma criança?