O Simpósio promovido pelo grupo E.R. estava entre os 101 previstos no XVI Congresso Internacional da Abralic
Por Priscila Cavalcante e Nathália Coelho
Com o intuito de conhecer e se aproximar de outras pesquisas acadêmicas desenvolvidas no âmbito comparativo da Literatura e Filosofia, o simpósio Questões metafísicas na Literatura: Epistemologia do Romance como debate ontológico do fazer artístico recebeu seis comunicações de pesquisadores de Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Piauí e Mato Grosso durante os três dias de evento – realizado entre 16 e 18 de julho.
No primeiro dia, a doutoranda da Universidade de Brasília (UnB) Dayse Muniz apresentou um estudo debruçado nas construções narrativas de três romances metaficcionais historiográficos da escritora, poeta e escultora Barbara Chase-Riboud. A pesquisadora é da linha da representação.
Intitulada As narrativas (im)possíveis nos romances metaficcionais historiográficos de Barbara Chase-Riboud: discurso, corpo e poder a comunicação teve como percurso reflexivo a discussão de pontos comuns a essas três importantes obras que buscam problematizar as situações de violência, silenciamento e exclusão vividas por mulheres negras do século XIX, nos Estados Unidos, sendo um cenário ainda presente na atualidade.
O caminho traçado pela pesquisadora é resultado das investigações desenvolvidas durante o mestrado e ampliadas agora no doutorado com o objetivo para se pensar no conceito de narrativas (im)possíveis e no tensionamento presente entre a realidade e ficção nos romances em estudo.
No segundo dia, a mestranda da Universidade Federal do Piauí (UFPI) Patrícia Pilar trouxe uma discussão apoiada na compreensão da “produção de presença” de H. Gumbrecht (2010) pelo viés do conceito heideggeriano de ser-no-mundo, com o intuito de refletir sobre o esvaziamento existencial do homem no século XX.
Ao longo da sua comunicação “O homem do absurdo e a questão do esvaziamento existencial”, a pesquisadora apresentou elementos da obra O estrangeiro, do escritor e filósofo Albert Camus, que podem estabelecer relações entre a literatura e a filosofia, além de auxiliar na compreensão das questões existenciais vivenciadas pelo homem no mundo e pelo protagonista da obra camusiana em estudo.
Segundo a pesquisadora, a fenomenologia sob a visão de Heidegger participou de sua base teórica para se pensar o velamento e o desvelamento do ser.
A comunicação da doutoranda da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Daiane de Oliveira iniciou o último dia do nosso simpósio e abriu as portas para as problematizações em torno das vozes narrativas presentes na obra Le Dernier Amour, de George Sand, pseudônimo masculino de Amandine-Aurore-Lucile Dupin, uma das principais romancistas, ensaístas e críticas francesas do século XIX.
Com o título “Autorreflexão criativa: o ethos do inscritor-locutor de George Sand”, Oliveira explicou sua compreensão inicial da obra como espaço do processo criativo de Sand e analisou as implicações da participação de dois narradores distintos no romance.
A partir de um olhar ancorado nos estudos da análise do discurso, Daiane procura entender a construção do ethos estabelecido pela escritora, além de discutir os vestígios do fazer literário presentes na obra romanesca em análise.
A segunda comunicação do último dia de simpósio foi a do mestrando Gledinélio Santos, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Ancorado nos estudos da obra Alegria Breve, do escrito português Vergílio Ferreira, o pesquisador buscou compreender a relação entre o ser e a arte presente no romance em discussão.
Dentro das suas inquietações de um leitor pesquisador, os tensionamentos entre o personagem solitário da obra e as questões acerca da condição humana e do existencialismo foram pontos principais em sua comunicação “Sobre a condição humana e a estética romanesca de Vergílio Ferreira”.
A partir do diálogo com os outros textos do autor, o mestrando se questiona no que diz respeito ao modo que o personagem da obra se relaciona com o outro, e a arte como espaço de se pensar o humano.
Já o mestrando da Universidade Estadual Paulista (UNESP/FCLAr), Rafael Bin, apresentou os seus estudos acerca da obra do autor tcheco Milan Kundera no último dia do simpósio. Em sua comunicação “Identidade metadisciplinar: Milan Kundera à luz de seus ensaios”, o pesquisador falou sobre as relações entre o fazer literário e crítico do Milan Kundera e as reverberações desse movimento no interior das suas narrativas.
Tendo a obra A identidade como objeto literário, o mestrando traça um caminho reflexivo sobre o projeto estético kunderiano e articula a visão ensaísta do autor na construção dos seus romances.
A comunicação “Exílio e vulnerabilidade na literatura e nas artes: viajantes, estrangeiros, comuns e desocupados em Taunay e Elvira Vigna”, da doutoranda Rosana Mendes da Escola Superior de Saúde Pública de Mato Groso (ESPMT) finalizou o último dia do simpósio.
A pesquisadora estabeleceu uma relação entre o século XIX e a contemporaneidade por meio das obras Inocência (1872), do autor Visconde de Taunay, e A um passo (2004), da autora Elvira Vigna. No campo de diálogo entre literatura e arte, a pesquisadora analisa as temáticas do exílio, do refúgio, do isolamento e da solidão dos dois romances em estudo e das obras artísticas de pintores e desenhistas franceses que vieram para o Brasil em 1816 em uma condição de exílio.
Após as apresentações, o público pôde discutir, provocar e conversar sobre as comunicações.
O grupo de pesquisa Epistemologia do Romance agradece a todos os pesquisadores e continua aberto para novas aproximações!