Este é o título da Comunicação feita por Wilton Barroso Filho, em 2012, no Colóquio Internacional “Amizades: o caso do mundo americano”, na Universidade de Rochelle, na França. Você pode rever abaixo.
Pensar o presente a partir do romance foi uma das soluções encontradas pelos escritores Carlos Fuentes (1928 – 2012) e Milan Kundera (1929) – a partir das experiências dos seus próprios lugares geográficos – para não passar desapercebido os problemas históricos e conflitos existentes entre os homens.
No entanto, compreender o exercício da criação romanesca como necessidade é, ao mesmo tempo, saber-se incompleto e negligente, pois é impossível, para o ser humano, ainda que se coloque temporariamente na posição de criador, descobrir a totalidade da existência. O exercício da escrita é inesgotável e está sempre se reinventando.
Dentro dessa ideia, Wilton Barroso Filho contextualiza uma amizade intelectual que nasceu em Praga, em 1968, entre Fuentes e Kundera, como uma oportunidade de reflexão conjunta sobre o momento histórico que viviam.
De um lado, Kundera com a invasão da então União Soviética comunista a Tchecoslováquia e farsa democrática de um regime que se propunha, na verdade, totalitário. Do outro, Fuentes que reportava também ditaduras vividas pela América Latina.
Kundera temia que o ocorrido em Praga pudesse se repetir no novo continente, e pedia para Fuentes alertar os intelectuais de esquerda da época. A troca de reflexões e conversas resultou na elaboração de romances e textos ensaísticos, de ambos os lados.
Em a Geografia do Romance, Fuentes dedica espaço de análise à obra kunderiana com o intuito de falar sobre o idílio, estado do mundo sem conflito ou mundo fora dos conflitos.
“De acordo com Fuentes, é uma palavra que não pode se pronunciar, mas pode ser escrita. Ele começa a perceber que, dentro de um senso filosófico da obra de Kundera, esse sentido será o controle do tempo e da história”, afirma Barroso.
Segundo Barroso, esta é uma tentativa do escritor tcheco pensar sobre o controle do presente, exercido pelo poder comunista na Tchecoslováquia, tal qual ocorria com o Cristianismo na Idade Média. Ambos trabalham para o futuro: o primeiro para um tempo utópico sem classes sociais, o outro para o paraíso da eternidade. Esta seria uma maneira de confundir e dificultar o olhar do homem para o presente.
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