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“A própria vida ou a falta de sentido na vida, a vida inautêntica, pode ser um motivo para deixar de existir”

Assista à quarta entrevista da semana, com o prof. Dr. Ileno Izídio da Costa

 

por Sara Lelis / Nathália Coelho

 

Um dos temas abordados no II Seminário Nacional de Epistemologia do Romance foi o suicídio. “O suicídio não é um tema atual, é um tema fundamental dos romances, da literatura. Grandes autores falaram sobre isso”, afirmou o prof. Dr. Ileno Izídio da Costa, do Departamento de Psicologia da UnB, em entrevista ao grupo Epistemologia do Romance.

O professor Ileno pauta a questão do suicídio a partir do conceito “ser para a morte”, do filósofo Martin Heidegger. Afirma que, de forma alguma, trata-se de um conceito negativo, mas diz respeito ao sentido que a vida pode ter até que o indivíduo deixe de existir. “Somos seres pautados pela temporalidade. Somos seres para a morte. Devemos construir um projeto de vida autêntico”, embasa a assertiva heideggeriana.

Para o professor, essa conscientização do projeto de vida passa pela certeza da morte, enquanto qualidade do ser humano. No entanto, é o projeto de vida com significado que desvia o ser humano do suicídio, pois, o professor reitera que a decisão de acabar com a própria vida torna-se uma decisão em função do modo como vive um indivíduo. Costa explica que, para decidir tirar a própria vida, o sujeito deve compreender seu percurso vital por completo. Somente assim, se julgá-la fracassada, ele compreende a morte como uma opção precipitada.

“No caso do suicídio, o indivíduo decide acabar com a sua própria vida em função do que ela vive, da sua angústia, em função do seu sofrimento, da sua posição existencial, da falta de sentido de vida”, evidencia. Costa diz que é necessário ir para além das externalidades e chegar na subjetividade do ser, de modo que não se aplique os motivos do suicídio apenas à uma doença. “Ninguém decide se suicidar à toa. É preciso compreender isso para ajudar essa pessoa a resgatar seu projeto autêntico de ser. E para isso é preciso mergulhar na vida da pessoa”, explica.

Outro tema de grande importância tratado pelo professor na entrevista é sobre o silêncio em torno do suicídio. Falar ou não sobre o assunto? O professor analisa a questão de duas formas. Entende a importância do silêncio para preservar e respeitar a privacidade humana, mas entende que a abordagem do tema auxilia a lidar com ela não só de maneira individual, mas também coletiva. Nesse sentido, alerta os cuidados que se deve ter com o tema caso abordado pela imprensa.

O professor esclarece ainda diversas questões do cotidiano: “o indivíduo não se mata apenas em razão de sua condição atual. O recado que eu deixo é o seguinte: toda pessoa que tenta se matar ou que se mata, de fato não quer se matar, ela quer às vezes acabar com o sofrimento e não sabe como fazer”. O professor aconselha conversar, procurar alguém para contar sobre seu sofrimento porque somos seres de cuidado.

Assista à entrevista completa no vídeo acima!